quarta-feira, 17 de junho de 2009

Dois mundos tão... iguais

Surpreendentemente, saí cedo do trabalho e, por ironia do destino, estava sem carona para voltar para casa.

Esperando minha Mercedes chegar, como não podia deixar de ser, me deparo com um belo personagem, como tantos outros que encontramos nas jornadas vividas nos transportes públicos. Seus (aproximados) 13 anos de idade não foram suficientes para que ele aprendesse coisas básicas.

Raquítico, ele vinha na direção oposta ao olhar das pessoas que estavam naquele ponto de ônibus, com uma carinha de smile magoado, dando passos curtinhos, como se estivesse assim, bem fraquinho e, depois de uma voltinha entre trabalhadores e estudantes, revelou sua dancinha. Parecia que, dentro daquela cabeça de menino, estava tocando um reggae, dando força aos seus pequenos passos.

Sem dizer uma única palavra, ele carregava consigo uma folha de papel escrita a rabiscos de BIC: “Eu quero cumê. Me dá dinheiro.”

- Pera aí, menino! Pensei comigo. – Se quiser que alguém veja o que está escrito nesse papel, você tem que vir pelo outro lado! Ninguém ta te vendo!

É básico, você tem que pensar na melhor forma de se comunicar com o seu público (eu tinha acabado de sair do trabalho). Ninguém que eu tenha visto até hoje, tem olhos nas costas.

Depois, cara de sofrimento não me comove, ainda mais quando não me convence e vem acompanhada de um reggaezinho imaginário e falta de educação, digo, bons modos. Ninguém ensinou as palavrinhas mágicas para esse menino? Com licença, por favor e obrigada?

Com certeza, quem não o ensinou a ter educação, foi a mesma pessoa que não deu “cumida” e nem aproveitou sua infância e adolescência para ensinar o valor da educação, desta vez falo daquela que se aprende na escola.

E eu querendo que ele tivesse alguma noção de comunicação...

Me fez lembrar de um outro personagem, ainda mais franzino, que me abordou com um sorriso na janela do carro e, com um sotaque meio nordestino me disse: Licença, você poderia me dar uma moedinha?

Não pensei duas vezes, dei várias moedinhas. Ele agradeceu com um simples obrigado e saiu. Bastou para me cativar. A mim e a quem passava pelo sinal onde ele juntava o pão de cada dia, literalmente. Não era raro ver em um banco próximo dali, biscoitos, pão, leite... se era páscoa, tinham ovos de chocolate, se era natal, presentes.

A mami, começou a cuidar dele, descobriu onde ele dormia, sabia da sua história de vida, conversava, dava comida. Assim como ela, como descobrimos mais tarde, muitos se preocupavam com a saúde e bem estar daquele menino com jeitinho frágil (de verdade), mas que carregava um elefante nas costas. Muitos quiseram levá-lo para abrigos, chamaram o conselho tutelar, mas ele se negava a sair da rua, afinal de contas, como é que ele cuidaria de seu pai?

Era um menino com valores sólidos e tinha só uns dois anos a mais que o personagem do ponto de ônibus.

Lembra do sorriso no rosto dele? Pois é... estava sempre lá!

O objetivo não era comparar, tampouco julgar um, ou outro. Cada um, dentro de si, tem um mundo indecifrável (e são apenas adolescentes!) e o que fizerem de suas histórias será também o reflexo do que o mundo fizer com eles, acredito eu, com meu limitado conhecimento em psicologia, sociologia, etc. Quem disse que o primeiro menino não merecia todos os cuidados gratuitos que recebia o nosso (meu, da minha mãe, do meu tio, da minha prima e tantos outros) querido segundo personagem? Talvez mereça mais... Será que alguém já se arriscou a perguntar ao menos o seu nome?

E então era eu, esperando um ônibus, com papel e caneta nas mãos, um Ipod para teletransporte imediato para um mundo paralelo onde poucos conseguem entrar e muito se pode ver.

Beijos!

Lu

Um comentário:

Et.zinho disse...

Lu...

Não entendi uma coisa...
pq vc começa o texto esperando o mercedão azul e termina esperando o ônibus!??!

kkkkkkk...

brincadeira!!!!

to com saudades tb...
vi q vc passou pelo meu blog...
podia colocar o link dele ai nessa relação de links neh....

rsrs...

bjinho LU!!!!!