quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Aula de História em Berlin


Tínhamos quatro dias na Alemanha, dois para Berlin e dois pra Munique. O preço do trem para Munique nos fez mudar os planos quase que imediatamente, estava praticamente o dobro do esperado (que já não era muito barato).

Ficamos então em Berlin, à primeira vista, a cidade pode ser um pouco decepcionante, pricipalmente se você faz a sua primeira visita no lado oeste da cidade e fica hospedado num hostel estranho e mal localizado. E por falar em hostel, ainda não contei como é que eles funcionam, os famosos albergues.

Primeiro se pesquisa, no Google mesmo, um site com todos os hostels da cidade. Nesse site escolhemos, dentre muitas opções, aquele que mais convir de acordo com a avaliação de hóspedes anteriores. Geralmente se olha o nível de aprovação da limpeza, funcionários e, principalmente, localização. Se estiver acompanhado de uma descrição do tipo “no centro da cidade” ou “há cinco minutos caminhando da estação X”, fechou, é esse mesmo. Às vezes da certo.

Nosso querido albergue era um muquifo, dividíamos o quarto, o banheiro e a cozinha, sem contar com a falta de simpatia do gerente, mas tudo bem, era só por uma noite. Com a mudança de planos, fomos obrigadas a buscar outra acomodação para as duas outras noites e planejar mas três dias em Berlin mesmo. O que poderia ser uma dor de cabeça, acabou sendo uma grata surpresa.

Primeiro descobrimos que a Guest House que agendamos no Centro de Informações Turísticas era, na verdade, uma espécie diferente de hotel. De dois donos gays, um deles brasileiro, a casa tinha uma decoração de deixar qualquer biba beje. Começando pelo quarto enorme, com uma cama de casal redonda e uma de solteiro, ambas com lençois brancos e almofadas de veludo vermelho. O lustre era daqueles que parecem feitos de umas gotinhas de vidro e o armário também muito bonito, continha dois roupões e um mini-bar com vários tipos de bebida. Isso, sem contar com a bandeija com um vinho, duas taças e uns petiscos. Perfeito para uma noite bem romântica... unf.. Tirei várias fotos, dêem uma olhadinha no Picasa.

Finalmente, o que é Berlin se não a história viva da Segunda Gerra Mundial, a consequencia do horror que foi o Nazismo? Berlin é a Europa sem arquitetura antiga e sem o charme que ela emana. Sem isso, o que é que se protege nessa cidade, o que se vê? A memória.

Lá vemos memoriais ao sofrimento, à barbaridade que foram os anos da ditadura nazista. Memoriais ao Holocausto, aos presos políticos, aos judeus... O memorial ao Holocausto consiste em mais de dois mil blocos de concreto cinzas, paralelos e com alturas que aumentam e diminuem gradualmente, numa forma não definida. O que ele representa é exatamente o que você quiser que ele represente, nem mesmo os responsáveis dizem, é de livre interpretação. No entanto, basta andar por entre os blocos para ter a sensação de que tudo é inesperado, as pessoas que também circulam por ali passam lá e cá como flashes em um filme de suspense. Em cada espaço entre um bloco e outro se encontra cenas diferentes, um menino sentado, alguém andando na mesma direção que você, outras vindo em sua direção e, tudo o que se quer, é chegar ao outro lado o mais rápido possível.

No segundo dia, com a mudança de planos, acabamos indo para Potsdam, uma cidade próxima a Berlin e que teve muito mais sorte com relação à manutenção dos prédios e demais construções anteriores à guerra. A maior parte do dia passamos em um parque, onde a cada quilometro andado no meio do mato, encontrávamos um palácio, uma igreja ou um “sei lá o que”* em estilo romano, um lugar mais lindo que outro.

O próximo dia foi para enxergar com os próprios olhos o que a professora de história contou, um campo de concentração. Neste dia tivemos um guia que nos explicou com detalhes todo o horror vivido não só por judeus, mas por todas as pessoas consideradas impuras ou perigosas para o nazismo e, os detalhes foram tantos, que não me senti fazendo turismo, de alguma forma senti que devia respeitar aquele lugar como quando se entra em uma igreja ou um local sagrado. Não tem muita graça caminhar em um lugar onde anos antes pessoas não eram consideradas seres humanos, eram torturadas das piores formas possíveis e viviam vinte e quatro horam por dia com medo e a certeza de que havia uma arma que as alcançava em todo o campo. E mesmo os que, no final de tudo, se libertaram, não tiveram a vida de antes, estavam loucos ou sozinhos, pois o regime havia liquidado toda a sua família, amigos e casas.

No último dia, no lado leste de Berlin, vimos mais coisas bonitas ou, mais prédios que sobreviveram à guerra. Ao mesmo tempo, entendemos com mais clareza a presença da modernidade. Tudo foi destruído e a cidade vem sendo, ainda hoje, reconstruída por causa da guerra. Era muito comum, principalmente quando estávamos sem um guia, caminharmos horas para encontrar algum monumento, um palácio importante e nos depararmos com uma construção literalmente embrulhada e em reforma, até mesmo ruínas estavam em reforma.

Neste dia, claro, fomos ao que resta do Muro de Berlin. E, ver o muro foi como ver a Monalisa, uma decepção. Na minha cabeça, para separar o país em dois, no mínimo ele devia ser do tamanho da Muralha da China**, mas que nada, tem muito muro mais alto e mais espesso que ele em BH.

No fim de toda aula de história, passamos uma ótima noite dormindo como sem-teto no aeroporto.


Agora, em uma semana e dois dias estou aí! Mas antes eu vou pra Itália belos!!!!

Até mais ver..

Bjinhus

*O “sei lá o que” não foi falta de atenção ao que eu estava visitando, mas em alguns lugares não haviam informações em inglês.
**Exagero sim, mas onde está o seu senso de humor?